terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Jung II

A nossa consciência pode se orientar em relação à experiência de quatro formas.
De maneira geral cada um de nós possui uma dessas quatro formas em predominância, porém todas elas estão presentes em dado momento da nossa vida.
Determinada forma pode predominar ou se ocultar. Tudo vai depender da natureza da experiência, de quantas vezes o bicho foi solto e foi dominado e da forma que ele nos pegou, entende?

As formas são basicamente:

1. Pensantes – aquelas criaturas que racionalizam tudo, através das faculdades intelectuais.
2. Inteligentes - aqueles que pensam através de sentimentos. Seria um sentir com uma função racional e organizada.
3. Intuitivos – aqueles seres irracionais, que de forma involuntária são dominados por sua profunda percepção e palpite.
4. Sensitivos – aqueles que não entendem o que acontece, não fazem idéia, mas tem a nítida sensação de que há alguma coisa.

Num resuminho simplório, a sensação diz que alguma coisa existe. O pensamento nos mostra o que é essa coisa. O sentimento revela se é agradável ou não. A intuição nos diz de onde vem e para onde vai.

Você já parou pra pensar de que forma o bicho pegou você?

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Extremamente Alto & Incrivelmente Perto

Mas quê?
Sofrer pra quê?
Com o tempo?
Com o alento?

Minhas botas tão pesadas.
Prefiro viver. Prefiro acreditar. Prefiro voar.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Criando um monstro!

A Fabi sempre teve um parafusinho a menos na cabeça e o engraçado é que ela mesma admitia isso, falava no assunto sem problema algum.

- Desde pequena sempre fui diferente das outras crianças. Considerada uma adultinha entre meus amigos, e responsável entre os mais velhos, eu era a pessoa do grupo que tomava conta, a prevenida, que pensava em todas as possibilidades catastróficas para cada situação. Falo isso sem problemas, até porque acredito que com os 30 anos que tenho hoje, não sou mais assim, meu ascendente em aquário já fala mais alto que meu signo em câncer.
Além disso, essa paranóia, mania de perseguição ou prevenção aguçada, como quiser chamar, me foi muito útil em dois sentidos da minha vida.
Sempre foi difícil acontecer algo realmente ruim comigo... Imagina que a paranóia era tanta que calculava a distância dos passos do estranho que caminhasse atrás de mim, previa todas as alternativas de fuga, de caminhos alternativos quando passava por uma obra em construção imaginando o Jack estuprador dentro dela.
Fora todo esse cuidado, hoje vejo que penso de forma muito rápida - sério, sem falsa modéstia - e sou capaz de contrapor hipóteses, imaginar situações, inventar versões e histórias como ninguém.
Ou seja, vendo o lado positivo de tudo isso, ao menos estou vivinha da silva e a minha profissão foi beneficiada com tudo isso. Quanto mais criatividade, melhor! Que assim seja!

Eu e a Fabi viajamos por três dias no total, num início de agosto quente. Nosso destino final era Uberlândia, cidade que faz parte do triângulo mineiro junto com Uberaba e Araguari entre outros municípios da região, bem ao norte de Minas Gerais, pertinho de São Paulo.
Apesar de estarmos a trabalho, eu como produtora e figurinista e a Fabi como representante da agência de comunicação da empresa para a qual trabalhávamos no evento – Ela na verdade era a designer que havia criado a concepção da passarela e do stand-deu pra perceber que já estávamos praticamente íntimas (como só as mulheres sabem ser) e nossos papos iam muito além da boca de cena e das luminárias da passarela.

Num dos papos foi que trouxemos essa história da infância, a caminho de Uberlândia, ainda no avião. Eu também falei um pouco da minha infância, que olhando pra trás, via como tinha sido boa, cheia de brincadeiras nas ruas, cheia de ingenuidade, amigos, arte e poesia, como a infância de uma criança deve ser. Claro que hoje me sinto um pouco verde pras coisas, aprendendo muitas delas pela primeira vez, mas acho que isso não chega a ser um defeito, nos tempos de hoje talvez seja até uma qualidade.

Enfim, papo vai papo vem, chegamos ao nosso destino. Ficamos hospedadas no mesmo hotel que ficava bem em frente à casa de espetáculos que íamos trabalhar. Colocamos a mão na massa logo pela manhã e só paramos às dez da noite. Logo depois que terminamos tudo, fomos pros nossos respectivos quartos tomar um banho, ficar bem cheirosas e zarpar pra noite. Ao menos a esse luxo nos permitíamos nas viagens, depois de trabalhar feitos camelos, escolhíamos o restaurante mais chique e badalado da cidade e a diversão tava garantida e só começando.

Nessa viagem havíamos construído mais um tijolinho da nossa “amizade”. Estávamos mais próximas, trocando confidências com uma sintonia fina.

Já na recepção vi que a Fabi tava diferente, pálida feito um fantasma. Quando chegamos ao restaurante é que ela me contou:

- Ai colega, não sei se voltei a pirar, se essa volta à infância tem alguma coisa a ver, mas aconteceu uma coisa muito estranha enquanto fomos tomar banho.

- “Nossa que poderia ter acontecido, o jatinho do banheiro virou um monstro enquanto ela tomava banho? Tinham colocado veneno no ar condicionado? Havia alguém embaixo da cama? Essa Fabi deve ser uma louca mesmo, já pensava eu cá comigo mesma”, mas como boa representante da ala feminina, fiz cara de espanto e interesse e pedi que contasse em detalhes o que de tão estranho tinha acontecido.


- Sabe o que foi, pode ser uma bobagem ou não, mas quando eu tava entrando no banho o telefone tocou. Tinha uma voz de homem do outro lado da linha que disse:
- Quem fala?
- É a Fabiana.
- Mariana?
- Fabiana!
- Juliana?
- Fabiana!!
- Mariana?

- Lá pela quarta vez me senti uma idiota e desliguei na cara do ser. Só podia ser um trote! Mas quem teria interesse em me passar um trote? Isso é coisa de criança e a voz era de homem feito. Liguei pra recepção e perguntei se tinham me telefonado. Responderam que não. Perguntei quem poderia me ligar direto, sem telefonista. Apenas os demais quartos. A princípio não me assustei, mas já no banho voltei a pirar como se tivesse doze anos. “E se for um psicopata? Já tinha visto muitos filmes com esse perfil, eram frios e insistentes. E se me viu chegar e ficou obcecado? Provavelmente tava seguindo todos os meus passos. E se me viu pela janela do quarto, pelada? Podia ser um tarado. E se o apartamento dele fosse ao lado do meu e desse pra me ouvir?”.

- Calma Fabi, não esquenta. É muito comum passarem trote. Eu mesma já recebi milhares de trotes na minha casa e não passou disso. Esquece essa bobagem, vamos curtir o finzinho de noite que nos resta!

22h da noite do dia seguinte, passado o extenso dia de trabalho.

- Fomos direto prum barzinho que ficava na praça principal da cidade – Sim, em Uberlândia ainda se faz jus às praças. Havíamos conhecido uma turma na noite passada e ficamos sabendo que esse era o point da cidade, tinha um climinha alternativo e chique ao mesmo tempo – Sim, em Uberlândia existem lugares legais.
Na verdade esse bar tinha o nome da praça onde estava localizada, em homenagem a árvore que cobria todo o bar e boa parte da praça, pura poesia o tal de Belvedere.

Lá pelas tantas a Fabi volta na história do telefonema:

- Sabe, eu ainda to encubada com essa história. Nem te contei, mas ontem quando tava entrando no quarto de madrugada um homem muito suspeito tava passando pelo corredor e quando me virei pra olhar quem era ele tava me encarando. Coincidência né? Num hotel tão business um cara passando as 3 da madrugada pelo corredor. Sei não..

- “A meu deus, de novo essa ladainha, guria bem chata quando assume essa personalidade doente!” Polidamente disse: Fabi pensa comigo, se fosse um psicopata já teria se manifestado, não achas? Até porque saberia que vais embora amanhã e que o tempo dele é curto pra agir.


2h da madrugada
Ao chegar no hotel combinamos o dia seguinte.
- Amanhã te encontro às 6h no café. Nosso vôo é às 8h. Não pude conter a ironia e dando risada soltei: “Fabi! Cuidado com o bicho papão, ele pode te pegar”.
Vi que ela levou na brincadeira e nos despedimos rindo muito.

Na verdade, vim a saber as novas confidências no dia seguinte, durante o nosso vôo de volta. Quando nos despedimos no elevador, no dia anterior, pensei que a Fabi estava se divertindo com a brincadeira do bicho papão, mas não, aquele remember trouxe a tona um assunto que a bebedeira já tinha tratado de ocultar.

(Relatosdabêbadapsicótica):
- Putz, saí do elevador dando risada, mas cheguei ao quarto e não conseguia pregar o olho. Tava num excitamento! Sabe aquela palpitação no coração de quando estamos apaixonada mesclada com a sensação de vertigem/enjôo que ficamos quando olhamos pra baixo, de uma altura de 50 andares?
Era assim que eu me sentia. Claro que um pouco era pelo excitamento pós-evento, porque sempre fico na adrenalina, mesmo tando cansada. Mas outro TANTO era pelo pavor de apagar a luz e pensar no psycho.
Não conseguia pregar o olha e nem queria, me borrava só de imaginar a luz apagada. Fiz palavras cruzadas, tentei ler um pouco. Lá pelas 3h (parecia que já tinha passado uma eternidade) parei com essa bobagem e botei meu ascendente pra trabalhar. Tomei vergonha na cara e apaguei a luz! Sô louca, mas nem tanto. Um mulherão de 30 anos com medo do bicho papão. Mudei os rumos e tratei de pensar em coisas boas. “Pensei insistentemente em mar, praia, sorrisos, abraços, como aquelas fotos de bancos de imagens super fakes, mas incrivelmente perfeitas pra esse momento”. Quando já tava pregando o olho...

- “Nossa, vai ver que o chuveirinho começou a falar dessa vez”. Contrariando a personificação da ala feminina, fiz cara de tédio enquanto ouvia o desfecho da história.

(Continuação dos Relatosdabêbadapsicótica):
- O telefone tocou. Fiquei imóvel. Gelada. Meus batimentos cardíacos foram aos céus.
3 da madrugada!!!!! Quem me ligaria a essa hora?????
Segui imóvel na cama e a essas alturas meus batimentos já acompanhavam o toque do telefone como uma sinfonia. Puta que pariu pensei, porque isso ta acontecendo comigo? Logo eu! Decidi deliberadamente não atender, por nada desse mundo.
A criatura já tava na quinta ligação sem parar, tava ficando insuportável pra mim e num ato impulsivo atendi a porra do telefone.

- Alô!
- Fabiana?
- A mesma voz masculina de homem feito. Desliguei na cara e tremendo liguei pra recepção.

- Oi, gostaria de saber se a recepção telefonou pro quarto 412 agora?
-Sim Sra. Fabiana, desculpa incomodar a essa hora, mas está tendo um vazamento no quarto 414, ao lado do seu, e a única forma de mexer nos registros é através do seu apartamento. Teremos que subir aí agora Sra. Fabiana. Em nome do hotel lhe peço desculpas.

- Meu mundo caiu. Me vesti, recebi os viventes (quatro homens entraram no meu apartamento pra concertar o vazamento) e não preguei o olho a noite toda.
Fiquei pensando em tudo isso, recapitulando todos os fatos e sabe que percebi uma melhora na minha atitude. Ficou claro pra mim que aos pouquinhos, cada vez mais eu tava me curando de toda essa loucura que a infância me remetia. Pensa comigo, se eu tivesse realmente paranóica, teria pensado também na hipótese de o hotel estar pegando fogo e não apenas de ter um psicopata atrás de mim. Você não concorda?

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Festinha Quinta!



Quinta - feira (29/11), a partir das 21h vai ter festinha no Sotão pra comemorar o aniver da Fer Moura.
No som, muito rock com Lua+John+Foppa.

Quem quiser ir é só mandar um e-mail para luana@agenciaescala.com.br que colocamos seu nome na lista.

Sem Lista:
Mulheres - R$8,00
Homens - R$12,00

Com Lista:
Mulheres - não pagam nada até a uma hora. Depois pagam R$6,00
Homens - R$10,00

Apareçam!
bjos,
Lua

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Boininha

Tudo bem ela querer usar boina no inverno. Esse é um hábito que os europeus cultivam bastante, inclusive é lindo de ver aquelas francesinhas, espanholitas altas, magras e esbeltas. Usando boinas de diferentes cores e estilos, cheias de charme, com caimento natural sobre a cabeça. Aquele tipinho super cool, despojado, que parece não tá nem aí pro visual, mas que está simplesmente linda.

O que não posso suportar, e aí você há de concordar comigo, é que num país tropical, em que praia e mulher pelada é o que há, uma mulher de meio metro, que parece estar vestida de motoqueira do oeste, coloque uma boina dessas. Ainda mais dessa forma- reta na cabeça- sem nenhum charme, tipo capacetinho..ah fala sério, não tolero mal gosto.

Sei que você deve estar pensando aí com seus botões, quem esse cara pensa que é? Coisa mais bichona ficar tão exaltado por uma roupa mal conjugada. Por um capacetinho na cabeça? Macho que é macho não quer saber da embalagem e sim do conteúdo.
Ah, bobagem, digam o que quiserem, nesse quesito não me influencio. Pra mim nada melhor que uma gostosa, em que a embalagem é tuudo de bom, com aquela carinha de saudável, arzinho de sapeca. Tem que despertar o apetite - esse é o primeiro pré-requesito. Na ordem de importância, só depois é que vem o conteúdo. Digamos assim, numa metáfora bem chula, a embalagem seria a essência, como um pão cacetinnho. Já o conteúdo seria secundário, podendo mudar, variar o recheio, é pura força de vontade - com um pouquinho de esforço para alguns e disciplina ferrenha para outros.

Bom, fiquei matutando tudo isso e pensei: porque não dar mais uma chance? Nosso encontro fora marcado para amanhã às 20h.

Vai que aquele dia ela só estava num dia ruim, acontece! Também não tô com essa bola toda, melhor conferir de nuevo o conjunto da obra.

20h
- Oi Gatinho, tudo bem? Nossa, foi muita gentileza da sua parte ter vindo me buscar.
- Oi Raquel, tudo numa boa. Que isso, como um bom cavalheiro não poderia fazer diferente.

Silêncio até o restaurante.

Ao chegarmos no restaurante me pronunciei:
- Quem sabe você me dá o chapeuzinho pra eu guardar? (meus braços estavam desesperadamente estendidos na sua direção).

Raquel nunca mais falou comigo.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Um pouquinho de Jung!

A função da sombra é representar o lado contrário do ego e encarnar, precisamente, os traços de caráter que mais detestamos nos outros.

A sombra quase sempre aparece nos sonhos sob uma forma personificada. Geralmente nos sonhos e mitos essa personificação é uma pessoa do mesmo sexo.
Ela não é o todo da personalidade inconsciente. Representa qualidades e atributos desconhecidos ou pouco conhecidos do ego.
Quando uma pessoa tenta ver a sua sombra, ela fica consciente e muitas vezes envergonhada das tendências e impulsos que nega existirem em si mesma, mas que consegue perfeitamente ver nos outros.

A sombra apresenta-se muitas vezes como um ato impulsivo consciente que supúnhamos que não tínhamos a intenção de desabrochar!

A-D-O-R-O!

domingo, 18 de novembro de 2007

La merd!

É, tenho que confessar cá com meus botões que dia 12 de junho não era uma data em que imaginasse passar sozinha, afinal era uma das mais namoradeiras entre minhas amigas e NUNCA havia passado um dia dos namorados sem receber flores, digamos assim.
Ok, eu e o Beto havíamos brigado mais uma vez e por ironia do destino a briga 25º cairá justo na semana de 12 de junho de 2006.
Confesso que ao contrário de outros momentos como esse, eu estava tranqüila, sossegada em casa, talvez por que fosse uma segunda – feira, talvez por que soubesse que o que não há solução, solucionado está. Anyway, era uma noite quente e para minha surpresa a campainha tocou.

- Oi Gorda, vim jantar com você, posso? Sabia que estaria sozinha, trouxe até uns bifinhos frescos e umas batatas pra gente comer.
Oi Pai, ué (não pude conter minha cara de espanto), achei que ia sair com a sua namorada, com a ...
- ...A Ruth minha filha. Pois é, não somos mais namorados, pra te dizer a verdade nem sei se um dia fomos.

As histórias do meu pai sempre me impressionavam muito, ele sempre fora uma pessoa muito sincera, humana e visceral, jamais contrariaria seus instintos e suas histórias tinham um q de ficção, de surrealismo impressionante.

Ficava muito encantada em ouvi-las, talvez por que em minutos seguintes poderia contá-las infinitas vezes aos meus amigos, que morreriam de rir em todas elas.

Mas essa história era diferente, bem diferente. Era uma história em que a narrativa era surreal, porém a estrutura era perfeita, possuía início, meio e fim e em todos os momentos os fatos tinham ligação. Enquanto ele me contava, meus pensamentos cruéis iam mais longe e já imaginava que ao invés de contá-la aos meus singelos amigos, poderia contá-la ao mundo, poderia transformá-la em uma obra de arte (A loca!)!

Bom, vamos à história antes que as expectativas atrapalhem tudo.

Quando começamos a ferver as batatas, pude perceber que meu pai estava bastante triste, chateado mesmo por tudo que acontecera.
Eis os fatos: Ruth e papai estavam saindo há duas semanas – tempo em que normalmente nada de significativo acontece, ao menos para aquelas pessoas mais retraídas e um tanto regradas. Para um bom amante, uma semana já seria tempo suficiente para se apaixonar e deixar-se apaixonar, para se entregar aos braços de seu amado, fazer juras de amor.
Não era o caso de Ruth.
Ruth era o tipo de mulher que queria conquistar papai aos poucos, pedia para que fossem devagar – leia-se, nada de sexo - até se conhecerem melhor. Era o tipo de mulher que gosta de aparentar certo respeito por si própria, sem entregar o ouro ao bandido logo de cara, entende?
Para papai, um ser tão visceral, esse tipo de linguagem não funcionava muito, pois ao invés de estimular ainda mais a relação, ele a sentia amornando.

Sábado estrelado. Eis o dia da reviravolta. Papai estava apostando tudo nessa noite, sim, eu disse TUDO, afinal não tinha nada a perder.
E ao que percebeu, ao buscar Ruth em casa, ela também estava apostando umas fichinhas a mais. Estava exuberante, sexy, vestia uma mini-saia com suas lindas pernas amostra. Segundo as lembranças de papai fora um início de noite empolgante.

Papai como um cara fino que era levou Ruth para conhecer uns casais de amigos muito queridos, uns amigos de tempos e outros nem tanto, mas que se reuniram num sábado estrelado para conhecer Ruth, a nova namorada de papai.

A noite seguiu empolgante, todos já tinham bebido uns vinhozitos e embora não tivessem feito nenhuma mistureba de bebidas, a dose de vinho já tinha passado do limite há horas. Como todo bebum que se preze, todos estavam muito extrovertidos e conversavam muuito entre si. Papai ficou feliz de ver Ruth super inserida no bate papo. Aquela altura papai já estava considerando Ruth um bom partido para se investir, dentro dos singelos quesitos que ele pregava, como: ser extrovertida, bonita, se relacionar bem com seus amigos e não fazer joguinhos nem tipinhos. Ruth estava mais ousada que nunca e segundo confessaria papai chegou um momento em que a linha tênue entre ousadia e escracho começou a se misturar: Ruth estava praticamente embriagada, bebeu sem parar a noite toda, fumou inclusive um malborão, para espanto de papai que nem sabia que Ruth era adepta a esses vícios.

Lá pelas tantas, em meio a fumaça embriagante, Ruth resolveu pegar um ar na janela, afinal até ela estava percebendo que algo não ia bem e não ia mesmo. Ao se virar, com a mão por cima da testa, como que agonizando por algo que estava por vir, Ruth desmaiou. Não foi um simples desmaio, foi um desmaio com um escoamento de merda mole por entre suas lindas pernas.

Que momento! Pare e imagine a cena do filme: a criatura entre “amigos novos” e “namorado novo”, em sua primeira aparição de boas vindas, bêbada e cagada. Por sorte estava bêbada. Certamente sóbria, o baque seria bem maior.

Um parênteses, esqueci de contar a vocês, mas papai é um legítimo argentino, foi criado por duas famílias tradicionais de Buenos Aires. Falar em família tradicional de Buenos Aires - pra quem conhece um pouco os portenhos - automaticamente rememoramos algumas características: povo culto, bem educado, fresco muitas vezes e com uma aguçada veia crítica a ponto de se envergonhar por problemas alheios.
Eis o quadro negro: Ruth foi levada ao banheiro, aos pingos, para que tomasse um banho e quiçá purificasse a alma. Papai, único voluntário de plantão, teve que rever seus conceitos portenhos - enquanto seus amigos ficaram parados, perplexos, boquiabertos com o ocorrido, e por fim sorrateiramente foram a outra sala pegar um ar - e com um pano na mão, limpou gota por gota / fresta por fresta do chão de porcelanato branco do fino apartamento.

Não bastasse limpar toda a merda daquela estranha, sim, a essas alturas ela já se tornara uma estranha, afinal mal se conheciam, teve que presenciar a cena deplorável de vê-la sair do banheiro de pijama e cara lavada. Ora, não é de espantar, um parente ou pessoa próxima nessas condições já é difícil de agüentar, imagine uma estranha.

Ao terminar de me contar o que de fato acontecera, pois já estava ficando nervosa imaginando o que poderia ter sido, nem tocamos nas batatas mornas. Essa história era de prender a respiração, pobre de papai, que mais lhe passaria, estava tão chateado.
Bem ou mal, era um homem inteligente e sabia que essas coisas podiam passar com qualquer um.

Ruth ainda estava muito abalada, haviam se passado dias, mas não sabia bem como lidar com essa situação tão inusitada. De qualquer maneira, teve o bom senso e a delicadeza de ligar para a dona da casa se desculpando pelo ocorrido. “Mil desculpas, to tão envergonhada e abalada pelo transtorno que causei a vocês, fiquei muito chateada pelo ocorrido. Me desculpe, falo de coração. Você sabe, literalmente caguei minha relação.”

Já papai, embora visse que a equação (ir devagar + vergonha dos amigos + lembrança da caganeira) fosse difícil de dissolver de sua cabeça, achava que devia dar uma última chance a Ruth, nem que fosse como amigos.

Ao se encontrarem pela primeira vez depois do ocorrido e última vez de suas vidas, papai percebeu que a equação de seu romance falava mais alto. Terminaram.

Partimos direto para a sobremesa, saboreamos um queijo com goiabada da vó do Beto e foi nessa hora que papai me comovera muitíssimo:

“Minha filha, gostaria de não levar mais Ruth comigo, em minhas andanças, mas tem sido inevitável, pois cada vez que entro no sítio, duas a três vezes por dia, passo pelo arroio siquera e inevitavelmente me recordo dela. Pelo jeito, ela vai ficar um bom tempo na minha memória”.

Terminamos o jantar em silêncio. Levei-o até a porta e parti imediatamente pro computador.

sábado, 17 de novembro de 2007

Me rendi!


Depois de doar minhas filhotas-gatas com desapego, de iniciar nas artes marciais e ser iniciada nos seriados, não era de se espantar que criasse um blog! Oxalá, espero que seja muito bom!