sábado, 13 de dezembro de 2008

Dezembro do capeta

Final de ano é sempre meio caótico, é aquela etapa final de quase tudo: fim dos projetos, fim do ano, fim de curso, acúmulo de festas/presentes e afazeres sem fim. Parece que quando chega o fim do ano temos a sensação que tudo acelerou demais e só aquela virada de ano novo, com novas promessas e projetos pra baixar a freqüência dessa vida frenética. 
Meu ano foi excelente, mas nem por isso meu fim de ano tá menos caótico: Mês de mudar de casa, mudar de trabalho 2x, finalizar curso, pensar 2009 e no meio disso tudo vem aquele montão de afazeres da casa, do dia-a-dia, do amor, da família, da vida...em se tratando de mulher nem se fala. Eu por exemplo sou uma mulher sem grandes vaidades e já tenho um trabalho danado em arranjar aquele tempinho pra relax, depilação, unhas, hidratação (nessa correria seria luxo!), cabelos, terapia, exercício (esse acho que só nos projetos de 2009 mesmo). Mas nem sei porque tô escrevendo tudo isso. Essa introdução era só pra me dar ao direito de escrever pouco no blog esse mês. Sendo assim trouxe um textinho engavetado sobre aqueles episódios da vida real. Esse não é divertido como "la merd", clássica história dos horrores animais do homem, mas é singelo e caótico o suficiente pra ocupar lugar por aqui num momento caótico como é o mês de dezembro de qualquer ano.

Besitos e se eu sumir, feliz ano-novo! Muito relax e slow down pra galera! ;-)

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É na noite que o bixo  pega

Eu podia estar roubando, eu podia estar matando, mas eu estava apenas voltando de mais um dia de trabalho.

Saindo da Matter, madrugadão, pernas doidas, vida desgracenta na medida em que se tem referências. Parceria do Pedro e do John pra tornar tudo mais leve.

4 am - procurando a maldita parada do bus 108.

4.20 am - esperando o maldito bus. Faz frio, de madrugada na terra da rainha faz muito frio.

4.40 am - Não sei porque me vem a cabeça imagens da exposição de Francis Bacon. Talvez por que a cena da hora seja eu me desfacelando sentada no chão (laje fria). John semi vivo depois de ter trabalhado noite e dia, noite e dia, noite e dia. Sim, é isso mesmo, foram 72 horas emendando trabalho de dia e de noite. Desumanamente esgotante. O carnaval da labuta que ele mesmo se ofertou.
Pedro = puto! Não, ele é macho. Ao que tudo indica. Mas tava puto com a situação.

4.55 am - O 108 chegou. 47 minutos nos aguardam até a próxima parada pra pegar o 91.

5.10 am - Inside the bus -Tranqüilidade e aquele amolecimento confortante do corpo ao sentar numa cadeira fofinha e num lugar mais quentinho. Segundos depois, quatro periguetes adentrarem no 108 em clima de carnaval. UHUHUHU Bunda lelê!
Apenas nos entre olhamos. Estávamos meio sem paciência. John a essas alturas já está nas nuvens. Digo: na profundidade de seu doce sono.

5.15 am - Grunhidos, gritos e brilhos espalhafatosos é o que nossos cansados sentidos detectam no ar.

5.17 am - Mendigo entra no bus (meus sentidos inevitavelmente afloram, estimulados pelo odor do moço). E ele parecia papai noel. Cesta de comidas a tira colo (provavelmente doados e talvez vencidos).
Ele deixa sua cestinha jogada lá na frente do bus e sem nunca mais olhar pra ela sentou ao fundo, na minha frente obviamente.
Parênteses in my mind:
-" até mendigo nessa terra é desencanado, sem aquela paranóia de cidade grande/violenta que temos com nossos pertences."

5.20 am - cenas paralelas:
Cena 1 - Jésus dentro da bolha.
O Jésus. Vamos apelidá-lo assim, pois todo o homeless é cabeludinho e barbudo lembrando nosso senhor JC. Ok, talvez essa referência seja meio demodê, não seja a referência atual, já que metade dos jovens são iguais a JC. John e Pedro que o digam. 
Anyway, Jésus sentou e tirou do bolso sete bitucas de cigarro - bem pequeninas cada uma - e começou a remexer nelas na tentativa fracassada de montar um único cigarro. Certamente tava chapado ou emboletado porque a atenção que dava pras bitucas era fora do comum. Ele tava literalmente dentro da bolha.

Cena 2 - Periguetes em ação. E sem noção.
Na maior cara dura afanaram uns sandubas da cesta do pobre Jésus. Deram umas dentadas e fazendo jus a bebedeira cuspiram pedacinhos de pão mole e molhado  como bebês chorões. Pra você imaginar a delicadeza com que foram cuspidos, os pedaços caíram no vidro lateral lá do outro lado. A mira foi generosa e  o "vomito" rebateu no vidro e finalizou sua queda na cabeça de uma negrona da porra.

5.25 am - BAFÃO. Purpurinas e penas vão rolar.
Parênteses in our mind:
Lua - Quero minha cama.
Lauro - Abaixo do Inn.
Pedro - Que nem criança quando escolhe brinquedo, bem tonto.
Jésus- Ainda nas bitucas.

5.27 am - Tensão no ar. Negona vai tirar as caras com as bafentas. Mas pra surpresa geral ela vai cheia de classe, fala mansa e educação.
As bafonas vão com tudo pra cima dela...mas TUDO. Gritaria, mãozadas, tapa no ar, empurra, empurra. Até peitinho pra fora de uma das periguetes rolou, tamanha a afobação e violência.
Além disso, pra meu espanto vejo que tem um cara junto com as loucas e esse inclusive cai na baixaria together. Três mulheres e um homem contra UMA mulher já é covardia...Tudo é muito rápido. 

Cena paralela: em meio ao estado de tensão crescente o namorado da moça educada segue bem sentado, sem exercer um movimento em prol da paz. Parece não estar de alma presente, pois a única coisa que faz é olhar pro infinito com cara de peixe morto, molinho como se tivesse recém sido fisgado.

Enquanto isso:
Lua in own mind- Gente bem baixa, vô me avança nessas periguetes..sangue subindo... cheguei a ficar de pé, mas meu inglês era inibidor.
Pedro - já tinha brincado bastante com a situação, agora já tava em outra...acho que no ipod.
John - 7*&^%$#@)

5.40 am - Todo mundo de pé, e como em uma manifestação do povo, expulsamos as periquetes. Não preciso dizer que em Londres podes andar pelada que ninguém te impede. Sendo assim, podemos considerar uma manifestação ousada, em massa e realmente necessária. Só o motora que não se manifestou durante toda a função. Tá explicado: os imigrantes é que lançaram fogo ao barraco!

5.42 am - Desembarcamos. Ufa!! Agora rumobora pro 91...

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