quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Ainsi est la vie

Segue textinho que eu escrevi semana passada, mas ainda nao tinha conseguido postar. ;-)
--
De perto ninguém é normal. Poderoso dito popular esse, não?
Pois bem, não contei pra vocês, mas ando com um tipo raro de câncer. Além disso, aos meus 93 anos, minhas pernas sofrem severa paralisia e dia desses, ainda criança, estive tentando fugir da zona de combate no Oriente Médio.
É assim que tenho me sentido ultimamente, variando a causa e a conseqüência, mas mantendo o mesmo tema: a tal efemeridade da vida. Ando fixada na realidade crua, dura e tão distante da minha a ponto de sentir aquilo que teoricamente não me pertence. Fixada também pelos acasos da vida que de uma hora pra outra surgem e são capazes de girar em 360 graus a nossa realidade, trazendo a tona um novo ângulo, uma nova maneira de ser.
Não é preciso ler um livro de auto-ajuda pra saber que o primeiro sentimento ligado a isso é "Me dá uma cerveja, que quero aproveitar a vida loucamente". Parece que só nessas horas nos lembramos que temos pernas, fôlego e tudo o que um ser humano precisa pra viver bem. Engraçado que, nesses “tempos de combate” vamos chamar assim, tenho me deparado com outro sentimento junto ao de "a vida é bela". É o sentimento "e se fosse eu?", "Qual é mesmo o sentimento dessa pessoa? Como eu reagiria? Quais os medos, desejos e esperanças que essa situação evoca?" E mais, "Que impotência da porra em não poder fazer nada pra ajudar", ou ao menos se sentir assim, sem saber como ajudar.
É por isso que digo que ando com um pouquinho dos males desse mundo. Com direito a uma boa dose de imaginação e realidade, misturados com alguns embrulhos no estômago, calafrios na espinha, suspiros e até umas lagriminhas.
A gota d'agua foi semana passada. Tive de ir ao hospital ver uma amiga. Ela havia ido ao médico por causa de um pelo encravado. E do nada o pelo encravado virou uma bola, que virou uma cirurgia de urgência na mesma hora, com direito a anestesia geral e tudo. Não adianta, essas coisas sempre me impressionam. Como um pelo encravado pode levar a um quadro desses? Já tava indo naquele clima "putz, odeio hospital". Se em pensar em doença já fico mal, quem dirá ver, sentir o cheiro e etc! Tenho que trabalhar isso, eu sei, nem condiz com essa minha psicológica "época de combate", mas realmente tenho pavor de hospital. Mas ok, tava no caminho do tal hospital ouvindo um Little Joy no iPod pra relaxar de toda essa situação inesperada que aconteceu com a minha amiga quando encontrei um colega de aula Iraniano. Papo vai papo vem ele me contou que tava indo ver a irmã no mesmo hospital. Que ela tinha 30 anos e estava com câncer desde os 26! Que teve momentos em que a perspectiva dela era um mês de vida (Imagina isso!), mas que agora estava tudo sob controle, que ela apenas trocava todo o sangue de 4 em 4 meses. No fim falou que obviamente não era fácil lidar com tudo isso, principalmente com a insegurança dela com relação à própria vida e morte, mas que ela era super forte e tal.
Há essas alturas dos acontecimentos já tava com um embrulho no estômago, mas consegui ser positiva e me dar conta que "quando o ser humano realmente precisa é que ele traz a garra a tona e se torna mais forte do que nunca, superando o que quer que seja. Quando o rombo é grande, somos leões. Quando são bobagens do cotidiano e da vida, pequenezas que nos chateiam parece que esquecemos esse leão adormecido e deixamos que as bobagens tomem conta, ocupem mais espaço do que deveriam. A valorização do que quer que seja está intrinsecamente relacionada a momentos de dureza e sofrimento. Ainsi est la vie."
Enfim, como de costume, despejo minhas doenças aqui no intuito de contagiar você de alguma maneira. Vou dormir e hoje espero sonhar que eu sou um pássaro, sobrevoando um marzão azul, com uma cachoeira ao fundo e um sol lindo no céu. Já que a realidade ta osso duro de roer, aos menos sonhemos dormindo e de vez em quando lembremos de fechar a janela da realidade (ou abrir se o seu caso for o contrário?) e sonhar acordado também.

Um comentário:

Fabiana Reis disse...

Linda,

Adoro ler sua sensibilidade. Confesso que, na maioria das vezes, vivo a vida ao contrário. Vivo no sonho e abro a cortina da realidade quando necessário. Não que a vida seja fácil. O motivo é justamente o oposto.

Beijos