terça-feira, 25 de novembro de 2008

Desconstruindo meu ser

A cena rolou no metrô de Londres. Cidade supostamente cosmopolita e de primeiro mundo, onde educação e cultura fazem a diferença. E muitas vezes fazem mesmo, já outras vezes nos perguntamos se não somos todos farinha do mesmo saco podre.

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Cena by John:
- Entro no metrô lotado, consigo um lugarzinho ao sol e na minha frente vejo esparramado o típico familião: mãe, pai e duas crianças entre quatro e sete anos. Cada um sentado em um lugar. Pra começo de conversa isso já significa que muitas pessoas estão se espremendo em pé enquanto os filhotes ocupam acentos de gente grande. Mas ok, nem entremos nesse detalhe. Eles estão ali, bem confortáveis até que se pára na frente um senhor caindo aos pedaços. Velhinho mesmo, todo fodido. Ao contrário daqueles velhotes mais energéticos esse tava mais prum tipo coitadinho, curvadinho, pequenino, sabe?! Pois bem, passado alguns minutos o véio e o pai da família trocaram algumas palavras mais ou menos assim:

Véio- Será que o senhor poderia me ceder um lugar?
Pai- (Tom alterado) Como é que é??!!
Véio- Não, eh que gostaria de saber se posso sentar?
Pai- (Tom alterado) Não tô te entendendo??!!
Véio- (Tom coitadinho) É que tô com um problema nos joelhos e preciso sentar. Será que uma das crianças poderia me ceder o lugar?
Pai- (Tom prepotente) Claro que não. Pelo visto você tá com problema nos olhos também, pois não está vendo que tem uma pessoa sentada aqui!!

Silêncio!

John- (Queixo caído) O senhor pode sentar aqui no meu lugar. (Tava tão puto com a situação que o inglês falhou e não pode nem dizer uns desaforos pra esse pai de merda).

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Engraçado que ao ouvir essa história e condenar esse pai insensível com uma atitude escrota tão sem educação me veio a tona outra situação bem conhecida de qualquer criatura que já andou de bus, metrô ou trem nessa vida cão. Tu chega exausto pensando que é a pessoa mais merecedora daquele lugar ao sol, senta na janelinha e ao olhar de revesgueio que um senhor ou uma senhora (nem tão idosos assim, mas suficientemente idosos pra tirar seu acento) estão se aproximando a cabeça baixa lentamente, os olhos se fecham, o cochilo chega ou então o livro na mão sobe aos olhos e se torna tão assustadoramente interessante a ponto de a concentração te cegar!

Quem nunca fingiu que dormia num bus só pra não ter que dar o acento pra aquela querida senhora de pé na sua frente?!

Eu vou confessar: geralmente sou gentil e cedo meu acento a quem quer que precise, mas algumas boas vezes me fiz de louca na hora de dar o acento a idosos "saudáveis". Já velhinho caindo aos pedaços, mulher embarrigada ou gente necessitada por alguma doença "gritante" eu não consigo dar truque! Mas aqueles que penso que não vão sofrer mais que eu, eu já dei!

Mas o curioso é que quando adotei essa postura "escrotinhasemeducação" sempre precisei fingir que eu não era "escrotinhasemeducação".

Ou seja, nunca assumi nem pra mim mesma que tava sendo "fia da puta", já que nessas horas minha consciência se anulava e eu realmente fingia pra mim mesma que eu não tinha visto que era preciso levantar a bunda da cadeira. O não ceder espaço era uma desculpa pra mim mesma, onde o livro, a revista ou o cochilo sempre eram minhas legítimas bengalas.

Aprofundando: nunca consegui dar um verdadeiro truque como o que o John presenciou esses dias. Daqueles em que não te envergonhas de deixar um pobre velhinho se equilibrando enquanto estas bem sentado. Não que isso seja alguma vantagem, pelo contrário, mas tô analisando por outro ângulo.
Achei curioso relembrar toda essa situação e parar pra pensar que mesmo esse sujeito sendo um ignorante para com o próximo ele foi mais verdadeiro com ele mesmo do que eu muitas vezes sou comigo.
Enlouqueci? As vezes me esgota pensar essas bobagens...;-(

2 comentários:

OS OLHOS ABERTOS disse...

amadaaaaaa!!! por isso tu é uma MARIA também! volta, vem, braços e abraços abertos pra ti, flor.

saudades.
e que texto esse, hein.

Gislaine Marques disse...

Luana, ler esse blog é uma delícia que a cada dia te descubro mais e gosto imensamente do que vejo. Um beijo, queri!